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China precisa combater consumo de animais selvagens, diz médico

COM R7 & AGENCIA REUTERS

Desde o início da epidemia de covid, especialistas chineses têm culpado o consumo de animais selvagens, que podem ser hospedeiros intermediários de vírus, como o coronavírus que já matou mais de 1.000 pessoas no país.

Nesta semana, foi a vez do médico Zhong Nanshan — que descobriu a SARS (síndrome respiratória aguda grave), em 2003 — fazer o alerta.

Em entrevista à agência de notícias Reuters, o pneumologista lembrou que as primeiras pessoas que adoeceram tinham ligação com um mercado.

“Os casos estão concentrados em Wuhan, particularmente em dois distritos. Estes dois distritos relataram 45% dos casos. Uma particularidade dos dois distritos é que existe o chamado mercado de frutos do mar. De fato, o que vimos é que a maioria das coisas vendidas no mercado não era frutos do mar, mas animais selvagens. É altamente provável que o vírus tenha sido transmitido ao ser humano a partir de animais selvagens, com base em análises epidemiológicas preliminares.”
Zhong defendeu que o país seja mais rigoroso no combate ao comércio e consumo de animais selvagens.

“Suponho que após esse evento, a China deva estabelecer uma lei ou determinação muito rígida, dizendo que é muito ruim manter ou comer animais selvagens. Devemos manter uma harmonia com a vida selvagem do mundo, não quebrar a ecologia natural do mundo.”

Uma suposta lista de preços do mercado de Wuhan começou a circular nas redes sociais após a epidemia.

Nela, aparecem valores de animais como filhotes de lobo, cobras, salamandras gigantes, pavões, ratos, jacarés e raposas vivas.

A oferta incluía também o abate dos animais escolhidos ou a carne congelada, como a de camelo. Tudo isso “entregue à sua porta”, dizia o anúncio.

Moradores das proximidades do mercado confirmaram ao jornal South China Morning Post a comercialização de animais exóticos.

“Havia tartarugas, cobras, ratos, ouriços e faisões”, disse uma vizinha do centro de compras. Um vendedor de frutas acrescentou que esse tipo de prática ocorria “há muito tempo”.

Até mesmo a civeta, animal que deu origem à epidemia de SARS, era vendida no mercado de Wuhan.

Autoridades chinesas encontraram o coronavírus que infectou humanos em amostras coletadas no mercado após a interdição

As amostras que deram positivo estavam na ala oeste, onde havia mais comércio de animais vivos.
Vírus como o coronavírus podem sofrer mutações e conseguir fazer o que os cientistas chamam de “jumping”, ou pulo, em português, de animais selvagens para humanos.

“A cultura alimentar chinesa sustenta que os animais recém-abatidos são mais nutritivos e essa crença pode aumentar a transmissão viral”, afirmaram cientistas chineses em um artigo publicado no ano passado. Em muitos locais, o animal é sacrificado na frente do cliente.

Especialistas ressaltam que o problema não é o consumo dos animais, já que o cozimento mataria os vírus e bactérias. O problema maior é o armazenamento deles vivos e o abate em locais inapropriados.

O mercado de Wuhan era um dos chamados “mercados molhados”, por causa da água jogada o dia inteiro no chão para limpar sangue e excrementos de animais. É este tipo de ambiente que cria condições para vírus sofrerem mutações e “pularem” de animais para humanos.

A China já proíbe a caça de animais selvagens. No entanto, é mais flexível ao permitir que sejam criados em cativeiro para fins alimentares.

Não se trata, no entanto, de algo rotineiro na vida da grande maioria dos chineses — esses bichos são caros e normalmente consumidos como iguarias por pessoas com maior poder aquisitivo.

O pangolim, animal selvagem também consumido na China, foi apontado por cientistas como o possível transmissor do coronavírus que causa a epidemia atual.

Além de fins alimentares, algumas pessoas apostam nas propriedades medicinais do pangolim.

A medicina tradicional chinesa sugere que as escamas dele têm poder de curar “excesso de nervosismo e choro histérico em crianças, mulheres possuídas por demônios e ogros, febre da malária e surdez”, segundo um artigo publicado na revista científica Nature.

“As escamas frescas nunca são usadas, mas as escamas secas são assadas, moídas, cozidas em óleo, manteiga, vinagre, urina de menino ou assadas com terra ou conchas de ostras”, afirma o estudo.

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