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Trump levou mais de uma semana para falar em vitória de Biden nos Estados Unidos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quase dois anos atrás, no começo de novembro de 2020, os Estados Unidos viveram dias de expectativa até que o perdedor da eleição presidencial reconhecesse o resultado e desse início ao processo de transição para o opositor que ficou à frente nas urnas.

Na ocasião, foram necessários 16 dias entre a vitória de Joe Biden e o começo oficial da transição de governo, à época ocupado por Donald Trump.

O prazo, contudo, foi marcado por um longo silêncio até o republicano reconhecer a vitória do democrata –Trump levou mais de uma semana para, deixando claro o contragosto, escrever dois posts em seu Twitter, um admitindo a derrota e outro voltando atrás.

O cenário guarda certa semelhança com o silêncio de Jair Bolsonaro (PL) sobre a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições deste domingo (30). Aliado de Trump, o brasileiro ainda não fez qualquer manifestação pública admitindo a derrota.

Foto de 6 de janeiro de 2021, dia da invasão ao Capitólio dos EUA, mostra policiais conversando com apoiadores do então presidente americano, Donald Trump, incluindo Jacob Chansley (à direita), do lado de fora do plenário do Senado — Foto: Manuel Balce Ceneta/AP

Em 7 de novembro de 2020, quando o resultado da eleição americana foi anunciado, Trump foi jogar golfe na comunidade de Sterling, no estado da Virgínia, a cerca de 30 minutos de Washington. Na ocasião, enquanto os americanos estavam ansiosos para saber o vencedor do pleito, o republicano era apenas um senhor de 74 anos, recuperado há pouco da Covid-19, vestindo um boné em que se lia “Make America Great Again” (faça a América grandiosa outra vez) e praticando seu esporte favorito.

Enquanto o presidente americano se divertia, porém, a Pensilvânia atualizou os números da votação no estado e chancelou a vitória de Joe Biden. Os advogados de Trump rapidamente se pronunciaram e prometeram continuar a enxurrada de ações judiciais para tentar reverter os resultados, principalmente os da Pensilvânia, onde, segundo eles, mais de 600 mil cédulas foram fraudadas. Já o republicano ficou calado.

Ao longo dos dias, Joe Biden repudiava a ação do republicano e chamava a recusa de Trump de vergonha. À época, porém, o democrata acreditava que a postura de seu adversário não teria muitas consequências para o processo de transição -mal sabia ele que em menos de dois meses uma multidão insuflada por Trump invadiria o Capitólio e protagonizaria um dos maiores ataques à democracia americana.

Em 15 novembro de 2020, o então presidente americano disse que Biden “ganhou porque a eleição foi fraudada”, sem citar o nome do rival, para uma hora depois voltar atrás e afirmar que “não reconhecia nada” e que o democrata só era considerado vencedor pela “imprensa de fake news”.

Da família Bolsonaro, as únicas manifestações públicas até a publicação deste texto foram de Michelle, mulher do presidente –que fez um post com um salmo da Bíblia em seu Instagram, sem mencionar as eleições– e do senador Flávio, filho mais velho do político, que em rede social falou em erguer a cabeça e “não desistir do Brasil”.

Nos EUA, a transição formal de governo começou depois de Trump ter bloqueado por mais de duas semanas o acesso da equipe de Biden a informações e recursos para a troca de poder. Mesmo quando finalmente cedeu, o republicano disse que ia seguir contestando os resultados das eleições, que ele argumentava sem provas –como o faz até hoje– terem sido fraudadas.

Biden teve mais de dois meses entre o começo oficial da transição e sua posse, em 20 de janeiro de 2021.

No Brasil, o gabinete de Bolsonaro não adotou, de forma coordenada, preparativos prévios para um cenário de mudança de governo, segundo interlocutores ouvidos pela reportagem. O assunto de uma eventual transição era considerado um tabu nos bastidores.

Ainda não está claro quanto tempo Lula terá para preparar o terreno para sua posse, marcada para 1º de janeiro.

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