JSNEWS – Uma equipe de pesquisadores dos Estados Unidos e Reino Unido dizem ter criado as primeiras estruturas ‘semelhantes a embriões humanos sintéticos’ do mundo a partir de células-tronco, ignorando a necessidade de óvulos e espermatozoides.
Essas estruturas “semelhantes” a embriões estão nos estágios iniciais do desenvolvimento humano: elas ainda não têm coração ou cérebro, mas os cientistas dizem que um dia esses embriões poderão ajudar a avançar os estudos para compreensão de doenças genéticas ou das causas de abortos espontâneos.
A pesquisa também levanta criticas acerca de questões legais e éticas, em muitos países, incluindo os EUA, não há leis que regulamentam a criação ou tratamento de embriões sintéticos.
O ritmo das descobertas nesse campo e a crescente sofisticação desses modelos têm alarmado os especialistas em bioética à medida que se aproximam cada vez mais do limite da vida.
“Ao contrário dos embriões humanos resultantes da fertilização in vitro (FIV), onde existe uma estrutura legal estabelecida, atualmente não há regulamentos claros que regem os modelos de embriões humanos derivados de células-tronco. Há uma necessidade urgente de regulamentação para fornecer uma estrutura para a criação e uso de modelos de embriões humanos derivados de células-tronco”, disse James Briscoe, diretor associado de pesquisa do Francis Crick Institute, em um comunicado.
A Dra. Magdalena Zernicka-Goetz descreveu o trabalho durante uma apresentação nessa quarta-feira,14, no encontro anual da Sociedade Internacional para Pesquisa com Células-Tronco em Boston.
Zernicka-Goetz, professora de biologia e engenharia biológica na CalTech e na Universidade de Cambridge, disse que a pesquisa foi aceita em uma revista científica conceituada, mas não foi publicada. A pesquisa foi relatada pela primeira vez pelo Jornal britanico The Guardian.
Zernicka-Goetz e sua equipe, juntamente com uma equipe em Israel já haviam descrito a criação de modelos de estruturas semelhantes a embriões a partir de células-tronco de camundongos. Esses “embrióides” mostraram o início de um cérebro, coração e trato intestinal após cerca de oito dias de desenvolvimento.
As estruturas semelhantes a embriões que Zernicka-Goetz diz que seu laboratório “criou e foram cultivadas a partir de células-tronco embrionárias humanas únicas que foram induzidas a se desenvolver em três camadas distintas de tecido”.
Ela disse ao The Guardian que as estruturas semelhantes a embriões que seu laboratório criou também são as primeiras a ter células germinativas que se desenvolveriam em óvulos e espermatozoides.
“Só gostaria de enfatizar que não são embriões humanos”, disse Zernicka-Goetz. “Eles são modelos de embriões, mas são muito emocionantes porque são muito parecidos com os embriões humanos e um caminho muito importante para a descoberta dos motivos de tantas gestações falharem, já que a maioria das gestações falha na época do desenvolvimento em que as construímos”.
Ela disse que, até onde sabe, foi a primeira vez que um embrião de modelo humano foi criado com três camadas de tecido. Mas ela enfatizou que, embora imite algumas das características de um embrião natural, não possui todas elas.
Os pesquisadores esperam que esses embriões modelo esclareçam a “caixa preta” do desenvolvimento humano, o período de 14 dias após a fertilização, que é o limite para os cientistas cultivarem e estudarem embriões em laboratório.
No momento, os modelos sintético de embriões humanos estão confinados em tubos de ensaio. Seria ilegal implantar um no útero, as pesquisas com camundongos e macacos mostraram que, mesmo quando os cientistas tentaram implantá-los, eles não sobreviveram – provavelmente porque os pesquisadores ainda não descobriram como implantá-los completamente e reproduzir as condições favoráveis da gravidez.
Zernicka-Goetz disse que o objetivo de sua pesquisa não era criar a vida, mas evitar sua perda, entendendo através dessa pesquisa por que alguns os embriões não conseguem se desenvolver após a fertilização e implantação.
“Sabemos muito pouco sobre esta etapa do desenvolvimento humano, mas é um momento em que muitas gestações são perdidas, especialmente em um cenário de fertilização in vitro”, disse Roger Sturmey, pesquisador sênior em saúde materna e fetal da Universidade de Manchester, no Reino Unido, disse em um comunicado.
“Atualmente, podemos dizer que esses ‘embriões sintéticos’ compartilham várias características com os blastocistos, mas é importante reconhecer que a forma como os embriões sintéticos são formados é diferente do que acontece quando um embrião normal forma um blastocisto”, disse ele. “Há muito trabalho a ser feito para determinar as semelhanças e diferenças entre embriões sintéticos e embriões que se formam a partir da união de um óvulo e um espermatozóide.”