Cultura

Crônicas do dia-a-dia: Cidades, oceano e brasileiros por todos os lados

Edel Holz

A definição da palavra ilha é um pedaço de terra cercada de água por todos os lados. É a minha definição pessoal de Boston. Boston é uma cidade cercada por cidades, oceano e brasileiros por todos os lados.

De Everett a Revere, de Framingham a Marlboro, de Milford a Natick, de Somerville a Woburn, os brazucas descobriram Stoughton, Lynn, Lowell, Peabody, Brockton, New Hampshire e Rhode Island. No verão, a água é cristalina, a gente vê os barcos a vela navegando Charles River abaixo. No inverno, tudo vira gelo e dá uma vontade de pegar meus patins especiais e me sentir no lago do cisne.

Já imaginou se de repente no auge das minhas peripécias como patinadora, o gelo resolve quebrar e eu caio dentro daquele freezer de pinguins? Será que morro na hora ou de choque térmico minutos depois da queda? Quando passo de carro pelos rios e lagos congelados, fico pensando naquele pessoal do Titanic, caindo entre icebergs e escombros.
Não dá para imaginar sobreviventes, não é mesmo? Quando cheguei em Boston, fiquei impressionada com a quantidade de cidades que atravessamos em segundo. Se formos por exemplo de Medford a Newton, no caminho passamos por Somerville, Arlington, Belmont, Watertown – quatro cidades em menos de 30 minutos.

A proximidade desses lugares me deixa feliz por poder viajar por vários municípios diferentes sem ter de pegar high way que não pego nem mortaaaaa. Me sinto a Ayrton Senna do volante, a Nelson Piqueta, a Barrichella. Meu marido ainda questiona como que alguém em sã consciência me permitiu tirar driver license nos Estados Unidos da América.

No Brasil, com carro a marcha eu bombei três vezes na prova de rua. Só dirijo carro “tomático”, meu bem. Eu dou graças a Deus a esse americano louco que me passou no teste de direção na época que eu ainda era barbeira, porque a liberdade que um carro nos dá não tem preço.

O ó do borogodó é depender de marido, mêtro e ônibus para levar-nos aqui e acolá. Com meu antigo Hondinha ia para toda parte. Só não dirijo em high way, porque tenho trauma. Nesse caso, preciso que o marido me leve. Cá entre nós, um pouquinho de dependência não faz mal a ninguém!

SOBRE A COLUNISTA
Edel Holz é a mais premiada e consagrada atriz, roteirista, diretora e produtora teatral brasileira nos Estados Unidos. Inquieta e de mente profícua, Edel tem sempre um projeto cultural engatilhado para oferecer para a comunidade brasileira. Depois de anos de ausência, Edel volta a abrilhantar as páginas de um jornal. Damos as boas vinda à poderosa e de mente efervescente Edel.

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