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Crônicas do dia a dia – Desabafo de uma atriz Anônima

Edel Holz  – É duro ser artista, fazer teatro, escrever, atuar, dar entrevistas, ganhar prêmios e continuar anônima. Não é simplesmente o fato de não te pararem na rua prum selfie­ e ou um autógrafo.

O que mata é ser invisível. Fazer peças incríveis é passar batido.
Quando a gente não tem a cara na tv ou no cinema ninguém te reconhece artista. Passei oito meses fazendo novela na Globo entrando muda e saindo calada. Quando o autor escreveu três frases para mim:” Bom dia, Seu Antônio, Boa tarde, Seu Antônio e Boa noite, Seu Antônio”, o presenteei com um ovo da Copenhagen que era de chocolate por dentro e casca real de ovo por fora.

Petraglia era meu patrão e disse pra Cininha:- “Edelweiss é uma puta atriz e não pode entrar muda e sair calada! Como eu tenho uma empregada na minha casa que não chamo nunca pelo nome?  Salem então batizou a empregada de Dirce.

Pelo menos tinha o nome dela e o meu no roteiro da semana! No último dia de gravação, gravávamos uma cena com todo o elenco num clube da Tijuca e Vicente, que era assistente de direção, pediu que a “Dirce” ­ casse na ­ la pra gravar um close up para aparecer nome/ personagem no último capítulo da novela.

Pois Vicente me chamou, subi no palco, e sorri pro close-up fotográ­co. Foi aí que ouvi uma voz ressoar pelo recinto:- “Quem foi que mandou essa menina subir aí? Tira ela daí agora!”
A anônima gelou, se sentiu a Carrie, a estranha com o sangue de animal que John Travolta jogou em cima dela. O elenco todo estava lá. Diga-se de passagem- um elenco estrelar.

Todos sentados nas mesas da festa. O único olhar piedoso foi o da Patrícia França, uma das protagonistas.

Ela olhou pra mim, inspirou o ar profundamente e fez um sinal do tipo:– Fica calma!
A minha vontade era de mandar o Sr. Wolf Maia pra puta que o pariu!
Com certeza eu seria capa de todas as revistas que ali estavam e adoram uma polêmica. E ainda seria chamada pra pousar na Playboy. Duvida?

Fiquei quieta, engoli o choro e o diretor grosso e sem noção foi pedir desculpa pra atriz errada, que foi me contar a gafe do bofe quando eu chorava no banheiro.

Aqui nos EUA, faço um trabalho pioneiro de teatro brasileiro há 20 anos.

Foram mais de 60 peças de teatro seja produzindo, atuando, escrevendo ou dirigindo e sou anônima. Só eu faço este tipo de trabalho em português para brasileiros com textos originais no mundo e continuo anônima.

Sinceramente sabe qual a vantagem em ser uma atriz anônima nessa altura do campeonato, aos 56 anos de idade? É que se eu for convidada prum papel de destaque no cinema ou na TV e bombar, ainda corro o risco de ganhar um prêmio de atriz revelação! Quem sabe assim deixo de ser anônima! Falo mesmo senão adoeço!


OBRE A COLUNISTA – Edel Holz é a mais premiada e consagrada atriz, roteirista, diretora e produtora teatral brasileira nos Estados Unidos. Inquieta e de mente profícua, Edel tem sempre um projeto cultural engatilhado para oferecer para a comunidade brasileira. Depois de anos de ausência, Edel volta a abrilhantar as páginas de um jornal. Damos as boas vinda à poderosa e de mente efervescente Edel.

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