Editorial

Editorial da edição 1429 – Que país é esse?

Jehozadak Pereira

Nas favelas, no Senado Sujeira pra todo lado Ninguém respeita a Constituição Mas todos acreditam no futuro da nação
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?

No Amazonas, no Araguaia-ia-ia Na baixada fluminense Mato Grosso, Minas Gerais E no nordeste tudo em paz Na morte eu descanso Mas o sangue anda solto Manchando os papéis, documentos fiéis Ao descanso do patrão Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?

Terceiro mundo se for piada no exterior Mas o Brasil vai ficar rico Vamos faturar um milhão Quando vendermos todas as almas Dos nossos índios num leilão
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?

A música do Legião Urbana é o retrato preciso do que é o Brasil neste momento de instabilidade política onde ninguém é de ninguém e todos estão enrolados até o talo nos esquemas de corrupção, roubo, mentira, dolo e falta de ética.

Jamais os políticos ou os donos do poder poderiam imaginar que um dia estariam na iminência de ir parar nos bancos dos réus – sim, assim mesmo no plural, pois pelo andar da carruagem vai faltar tribunais para investigar tanta gente.

Os personagens ou personalidade como queiram são os mesmos de sempre, com Jair Bolsonaro na frente de tudo e acima de todos, o famigerado Centrão, com quem o presidente um dia jurou que jamais se aliaria, mas que acabou capitulando. Não há um dia sequer desde o início do atual governo em que não surjam novos fatos envolvendo ameaças veladas ou abertas de golpe, de intolerância, com as devidas negativas de praxe.

Nada escapa da turma de Bolsonaro, ataques a tudo e a todos sem esquecer do Supremo Tribunal Federal (STF), o comunismo, a esquerda, a cansativa exaltação da ditadura militar, o negacionismo, o descrédito consciente da ciência e o desmonte da educação, os constantes ataques contra a imprensa entre tantas outras patifarias promovida por Bolsonaro e sua gente.

A mais recente crise provocada por Bolsonaro foi com as forças militares, exigindo a demissão do general Edson Leal Pujol, comandante do Exército que sabiamente fez de tudo para não permitir o uso político da categoria.

Notadamente centralizador e deseducadamente arbitrário e sem modos, Bolsonaro colocou o general Pujol no seu radar principalmente por causa da independência deste.

Consta que o último desgaste entre os dois, foi porque Pujol negou-se a condenar publicamente o ministro Edson Fachin por remeter os processos de Lula para Brasília e devolver-lhe os direitos políticos. É notório o pavor que Bolsonaro sente de Lula e tem pesadelos cada vez que pensa que pode perder a eleição para o ex-presidente. Será lamentável que qualquer um dos dois seja eleito no ano que vem. Mas voltando à crise da semana, em solidariedade ao ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva, Pujol, o almirante Ilques Barbosa Júnior, comandante da Marinha e o brigadeiro Antonio Carlos Bermudez da Aeronáutica decidiram pedir demissão ao novo ministro da Defesa, Walter Braga Netto. Em uma reunião tensa, foram demitidos antes e desde a demissão do general Silvio Frota em 1977 pelo então presidente Ernesto Geisel não se via uma crise tão aguda nas Forças Armadas. Bolsonaro interviu com mão pesada nas Forças Armadas para quem sabe num futuro bem próximo tê-las ao seu lado num possível golpe e fi rmar-se como ditador, que é o desejo dele, dos seus filhos e dos seus devotos.

O Brasil é um país, ou melhor, uma nação promissora mas de reconhecida capacidade de fazer tudo errado em qualquer setor da vida pública. É inadmissível que a corda seja esticada desta forma por Bolsonaro que parece não se importar com as possíveis consequências do que isto pode significar de fato e de atraso para o país.

Tem também o descaso com a pandemia, que já tem mais de 300 mil mortos e a constante e irritante demora para que a população seja totalmente imunizada. A saúde brasileira está em colapso e como Bolsonaro não admite que ninguém no seu ministério brilhe mais do que ele, e por isto já está no quarto ministro sem que a solução seja encontrada.

Pelo seu lado, Bolsonaro ataca com frequência as medidas tomadas por prefeitos e governadores, pois quer porque quer reabrir o país sem se importar com vidas, principalmente as dos outros.

O Brasil vive um período de prostração e espanto… É por isto que as palavras da canção do Legião Urbana e de Renato Russo são mais que atuais. São pertinentes. Toda vida…

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