Esportes

Sport Total – Uhl terere Uhl terere

Por: Alfredo
Melo info@jornaldossportsusa.com

Na Vila Hípica, do Hipódromo da Gávea, sede do Jockey Club Brasileiro, no Rio de Janeiro, nos anos 80, tinha uma turminha entre treinadores, tratadores, cavalariços, jockeys e aprendizes, que eram adeptos do cigarrinho do capeta, ou como batizou Tim Maia, “Bau rete”, em homenagem ao “Bauru”, seu sanduiche favorito.

O bagulho chegava na Vila Hípica, através de um motoboy, que fazia o bate-volta, entre o morro do Pavão-Pavãozinho e o Hipódromo. Levava o baurete e trazia as barbadas (prováveis vencedores dos páreos), informações dadas pelos profissionais do Hipódromo (informações de cocheira).

O bate-volta, era feito as segundas, quintas, sábados e domingos, dias das corridas, principalmente, segundas e quintas, nas corridas noturnas. O esquema funcionou até o dia em que o delegado Marcondes, recebeu informações que confirmavam o “bate-volta”. O primeiro a cair foi o motoboy, preso, erradamente, quando saia do hipódromo, deveria ter sido preso, na entrada.

De qualquer forma, o passarinho assustado, antes de ir pra gaiola, cantou bonito pro delegado. Com as informações, o delegado partiu pras buscas, dos 2 kgs, do baseado prensado, que tinha uma das melhores procedências, o estado do Ceará. Assim que o delegado chegou na portaria da Vila Hípica, a rádio peão entrou no ar.
Cromado, responsável, pela guarda e distribuição do bagulho, dentro da Vila Hípica, tinha pouco tempo pra se livrar do flagrante. Estava passando em frente a cocheira do cavalo Mar Morto e misturou a erva com o feno seco no cocho do pangaré e fi cou limpo.

Mar Morto, estava escrito na programação daquela noite, no Sétimo páreo. Com a saída frustrada do delegado Marcondes, que não conseguiu en contrar a maldita, Cromado e a galera correram para a cocheira de Mar Morto, para resgatar o bagulho, porém, tarde demais, Mar Morto já havia comido o feno seco.

Cromado, desesperado, não conseguia entender, como o cavalo, tinha comido a maconha prensada, afinal eram 2 Kgs. Cromado de repente, passou do desespero e revolta, para a euforia e a expectativa, queria descobrir o que aconteceria com Mar Morto, durante a corrida.

Numa tremenda algazarra, a turma da Vila Hípica, foi em peso para assistir ao páreo, junto aos apostadores nas populares. A voz elegante e inconfundível, de Ernane Pires Almeida, que foi narrador oficial do Jockey Club, por mais de 40 anos, inundava o Hipódromo: “Tudo pronto para a largada do sétimo páreo. Todos já estão alinhados. Mr. Sun, Fragata, Rei dos Pampas, Mar Morto, Bom bordo, Arquimedes e Zé do Trombone. Atenção… foi dada a largada. Rei dos Pampas em primeiro, Ar quimedes em segundo, depois Mr. Sun em terceiro, Fragata em quarto, Bombordo em quinto, Zé do Trombone em sexto e por último Mar Morto. Passam pelos 400 mts, Rei dos Pampas ainda em primeiro, abrindo dois corpos de vantagem sobre Fragata que já está em segundo, com Arquimedes em terceiro. Mar Morto, continua na última colocação. Contornam a curva de chegada, e entram pela reta final, Rei dos Pampas vai resistindo ao ataque de Arquimedes e Mr. Sun, que vai ‘no chicote’ junto a cerca interna. Mar Morto vem atropelando por fora, passa para quarto, terceiro… segundo. Cabeça com cabeça com Rei dos Pampas, livra cabeça, pescoço, um corpo, dois corpos, três corpos de vantagem. Dispara para o totalizador, não perde mais… e cruzam a linha de chegada”.

Vitória surpreendente do azarão Mar Morto, que estava mais vivo do que nunca. E n q u a n to os apostadores, surpresos, rasgavam suas “pules“, a turma do “Baurete“, voltava para a Vila Hípica em bloco aos gritos de… Uh Terere… Uh Terere… Uh Terere..


Bem, até que enfim o Alfredo Melo assume a verdade que nunca quis calar: ele é o Gatinho Cruel, que agora sai de cena para dar lugar ao seu criador. Enorme criatura no sentido literal, na bondade, no caráter e no conhecimento profundo do futebol e das coisas boas da vida, inclusive pratos deliciosos. Ah, tem também a paixão pelo Botafogo cada dia maior…

Deixe um comentário

WordPress Ads