EUA

Como Milei e Bukele viraram trunfos de Trump e conservadores dos EUA

BBC  – Algo curioso de acontecer no movimento de direita Republicana que alimenta Donald Trump com votos nos Estados Unidos: mais dois presidentes da América Latina juntaram-se à lista de estrelas internacionais dele.

São eles o presidente salvadorenho Nayib Bukele e o argentino Javier Milei, que participaram da Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), no sábado (24), no Estado de Maryland.

Bukele e Milei tiveram participações aplaudidas durante o influente fórum conservador, no mesmo palco onde Trump falou como protagonista indiscutível. No início de sua mensagem, o ex-presidente dos EUA classificou a presença de Milei como “uma grande honra” e ainda abraçou o libertário argentino nos bastidores no sábado.

“Vamos tornar a Argentina grande novamente”, disse Trump adaptando o slogan com o qual chegou à Casa Branca nas eleições de 2016 — feito que ele pretende repetir novamente em novembro.
Na sequência, Trump riu, como pode ser visto em um vídeo divulgado da reunião, ocorrida a poucos quilômetros do Capitólio dos EUA, que há três anos foi violentamente invadido por seguidores do então presidente americano.

Outros políticos estrangeiros participaram da CPAC, como Santiago Abascal, o líder do partido espanhol de direita radical Vox, e Liz Truss, a ex-primeira-ministra britânica.

Mas como Bukele e Milei se tornaram trunfos do trumpismo?

Coincidências

Se a agenda de Milei coincide com as posições dos conservadores americanos no plano econômico, a controversa “mão dura” de Bukele contra o crime parece enquadrar-se na intenção de Trump de colocar a segurança como uma questão central da campanha.

Bukele declarou guerra às gangues e reduziu as altas taxas de homicídios em El Salvador com uma política de encarceramento em massa e um estado de emergência que, segundo os críticos, levou a inúmeras violações dos direitos humanos.

O que Bukele fez em El Salvador foi atacar o crime e os criminosos. E há muitas pessoas que vivem nas grades cidades dos Estados Unidos que gostariam de ver ruas mais seguras.
Para Trump e a base de apoio conservadora, é uma oportunidade para sinalizar que o estilo de governo com a liderança de um homem forte é popular e está ganhando força fora dos EUA.

Num discurso em inglês na quinta-feira (22/2) durante a CPAC, Bukele procurou entrar em sintonia com o público, criticando alvos comuns da direita, como organizações não-governamentais ou o filantropo bilionário George Soros.

Bukele e Milei deram alguns recados que podem ter diferentes interpretações

“Dizem que o globalismo está morrendo na CPAC. Estou aqui para dizer que em El Salvador ele já está morto”, disse ele, provocando aplausos de pé do público. “Mas se quisermos que o globalismo morra aqui também, temos de estar dispostos a lutar sem trégua contra tudo e todos que o defendem”, acrescentou ele. “O próximo presidente dos EUA não deve apenas vencer as eleições. Ele deve ter a visão, a vontade e a coragem de fazer o que for necessário. E, acima de tudo, deve ser capaz de identificar as forças que irão conspirar contra ele”, sugeriu.

Milei manifestou simpatia por Trump desde o início campanha no ano passado e, embora o discurso no CPAC tenha sido marcado por um certo tom acadêmico em questões de mercado e de Estado, também incluiu críticas à classe política, à mídia e à “agenda assassina do aborto”.

“Não permitir o avanço do socialismo, não endossar a regulação, não permitir o avanço da agenda assassina (do aborto) e não se deixar levar pelo canto da sereia da justiça social”, listou Milei. “Venho de um país que comprou todas aquelas ideias estúpidas e, em vez de ser um dos países mais ricos do mundo, está no 140º lugar”, continuou ele. “Se [as pessoas] não lutarem pela liberdade, serão levadas à miséria.”

Milei viajou para a CPAC num momento em que enfrenta crescentes dificuldades políticas internas e procura apoio internacional para os planos de ajustes econômicos. O embaixador dos EUA na Argentina, Marc Stanley, comunicou ao governo Milei que não seria adequado que o presidente participasse da reunião da CPAC, de acordo com vários relatos publicados pela imprensa. A resposta que Stanley recebeu foi que Milei evitaria referir-se às questões de política interna dos EUA durante o evento.

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