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Crônicas do dia a adia – A primeira vez que vi a neve

Por: Edel Holz – Todo mundo me dizia que o frio em Massachusets era impressionante. Eu, friorenta de nascença, durmo com meia até com 40 graus de calor, gelei a alma em pensar nos 20,30 graus abaixo de zero .Mas sou corajosa e fui até o fim na minha decisão.

Vim pra Boston final de agosto, depois de uma temporada em Nova York e Worcester, na casa de amigos do peito. Era verão e eu tinha dois empregos: das 6 da manhã `as duas da tarde, no restaurante do Daysi’n Hotel e das 4 da tarde `as 11 da noite no Cinnabon, no Cambridge Side Galleria.

Quando eu chegava no Mall, as 3 PM, tirava da bolsa uma canga e um despertador. Dormia na grama ouvindo o barulho dos pássaros , as chegadas e saídas dos barcos que levavam os turistas para conhecerem um pedaço da cidade e mesmo assim. ainda não entendia o amor dos americanos pelo sol. Cinco minutinhos antes das 4, o relógio me dizia que era hora de pegar no batente. Um problema complicado ate se ajeitar aqui, é a moradia. Pulamos de galho em galho de pessoas em pessoas, ate podermos nos situar. Morava em East Boston, num sobrado ,onde os dois andares eram repletos de brasileiros.

Eu pagava 300 dólares por um quartinho que mal cabia uma cama. Na verdade, eu dormi num closet. Como tem gente exploradora nesse mundo, meu Deus…As meninas do apartamento de cima, eram muito legais.

Vivíamos descendo e subindo e nos encontrávamos todos os dias. Bertha, minha prima,- morava comigo, junto com mais duas pessoas e em cima, viviam:Naiza,Padô, Xurinha,Márcia e Geni.Nós trabalhávamos juntas(menos Xurinha) e claro que uma falava da outra e todas sabiam disso.
Mas, éramos unidas. Se uma passava mal, todas iam na mesma hora pro hospital. Se uma gritava com a outra, todas tomavam as dores e assim por diante. O verão foi curto o outono me emocionou com suas cores fortes e o inverno veio com toda sua força.Comprei luvas, cachecois, gorros, casacos de pele..parecia uma ursa. Uma semana antes do natal, quase na hora de fechar o Mall, a neve caía como fl ocos de algodão. E nós não acreditávamos no que víamos. Pra gente, Aquilo era coisa de cinema. Todas as meninas, exceto Padô, que acabara de chegar do Brasil e eu, viveram antes na Florida.

A coincidência da historia é que nenhuma de nós havia visto a neve antes. Parecíamos crianças. Brigávamos pra ver quem ia pro lado de fora primeiro e quem cuidava do caixa e dos cinnabons.
Revezávamos de 2 em duas a cada 5 minutos. Pulamos, gritamos e com certeza, muitos pensaram que éramos loucas.

Enfim, chegou a hora de batermos o ponto e irmos pra rua de vez. Fomos tomar um chopp numa pizzaria italiana e rodávamos nos postes de luz. Nos nossos lábios, a alegria pela vida ser mais que um filme. Nas nossas mãos , as luvas molhadas pelas bolas de neve que lançávamos umas nas outras.

Na nossa memória, um momento mágico e sublime, de quem jamais imaginaria as nevascas que ainda viriam pela frente.


SOBRE A COLUNISTA: Edel Holz é a mais premiada e consagrada atriz, roteirista, diretora e produtora teatral brasileira nos Estados Unidos. Inquieta e de mente profícua, Edel tem sempre um projeto cultural engatilhado para oferecer para a comunidade brasileira. Depois de anos de ausência, Edel volta a abrilhantar as páginas de um jornal. Damos as boas vinda à poderosa e efervescente Edel.

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