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Crônicas do dia a dia – Jardim Escola São Paulo

Por: Edel Holz A escola se localizava na Alameda Eduardo Prado nos Campos Eliseos em Sampa. Meu prédio ficava bem na esquina e a entrada era pela Vitorino Carmilo. Na frente do Jardim Escola São Paulo, o qual chamávamos carinhosamente de JESP, tinha uma imensa árvore centenária que reinava majestosa. A secretaria ficava no primeiro andar. Subíamos as escadas e tínhamos as salas de aula. Entrei no JESP com 6 anos de idade e tive que refazer o pré, porque não fui alfabetizada em Passos, como deveria ser. Me lembro que faziam uma avaliação nas crianças para medirem o QI de cada aluno através de um desenho de um ser humano.

Como meu irmão era artista de todas as artes, me ensinou a desenhar bonequinhas que tinham olhos, boca, nariz, orelhas, cabelo, pés, braços e vestidos cheios de frufrus. Dona Cora chamou minha mãe na secretaria e disse que meu teste tinha dado que eu era um gênio! Bastou pra escola toda saber disso. Faziam fila pra verem a gênia pintando na aula de artes da Tia Bárbara. Pois isso me bloqueou de tal forma que só consegui voltar a desenhar muitos anos mais tarde.

Tinha o Tio Igor, professor de Balet que passou pelo Bolshoi, tinha a Laís professora de inglês, o Bráulio de ginástica e a Lilian de francês que nos ensinou a cantar “ Pra não dizer que não falei das Flores “do Vandré nas aulas de francês. Hoje com certeza a chamariam de comunista pra minha tristeza. Amava as aulas dela. Tia Neide tinha os olhos claros, cabelo curto, era alta, tinha uma voz grave e foi nossa professora na primeira e quarta séries.

Na primeira série, ela colaborou pro meu pavor em matemática. Nos mandava escolher entre as duas réguas: a de morango ou a de chocolate e batia nas palmas de nossas mãos quando errávamos a tabuada. Parece até que eu errava pra apanhar. Carlos Henrique disse que se fosse hoje Tia Neide seria cancelada. Com certeza! Mas aprendi muito com ela. Na segunda série foi a vez de Tia Marisa. Ela tinha luzes no cabelo. Um dia, me pediu pra buscar uns textos no mimiógrafo e eu nervosa de tímida, perguntei:-hãn? Ela ao invés de me explicar o que era pra fazer, pediu pra outra pessoa na mesma hora.

Fiquei tão brava que escrevi todos os palavrões que sabia no papel em letras garrafais: Tia Marisa é feia, desgraçada, chata, boba, etc e tal… Só que tivemos de mudar de sala, deixei o papel na carteira, alguém viu, descobriu que fui eu quem havia escrito aquelas barbaridades porque conhecia minha letra de garranchos e me fizeram confessar meu pecado na frente de todos. Que vergonha!!! A terceira série teve Tia Maria Lúcia. Era loura e me lembro pouco dela. Na quarta, de novo Tia Neide desta vez sem palmatórias. Que deliciais livros que lemos lá: As Aventuras do Dr Lelé da Cuca, O Gênio do Crime, O Escaravelho do Diabo entre tantos outros… na quinta série não me lembro de um professor único. Acho que tivemos vários.

Ah os colegas… que delicia… Andrea havia nascido em Boston e hoje moro aqui! Tinha a Maria Clara, a Ciça que fazia xixi na calça no pré, a Luciana, a Maria Inês, a Sandra que trazia balas da Alemanha pra mim quando voltava das férias na casa do pai. Desde sempre, eu era grudada na Mariana, Thaís, Aline e Vívian. Depois vieram Tônia, Claudia e Lesiel.

Os meninos tinha o Felipe que morava na Serra da Cantareira e havia perdido seu irmão Frederico ainda bem novinho, João Carlos, o Carlos Henrique, o Roberto Ivan, o Paulo Alexandre( eu paquerava o irmão dele mais velho da oitava série – o Geraldo mas ele não sabia- era platônico), o Gabriel, o Ronaldo, o Roberto Pellegrini, o Eduardo, o Marcelo e o Sérgio Friedman.

Depois de uma aula de ciências o Sérgio veio com essa no recreio:- Ou Maria Edelweiss… deixa eu colocar meu espermatozoide no seu óvulo? Pois eu sentei-lhe minha bolsinha de crochê dando uma de Mônica e sai gritando pelos corredores até contar pra Tia Neide o ocorrido.

Claro que ela o chamou na xinxa e ele me pediu desculpa. Hoje morro de rir disso… O mister Couby comprou a escola e o JESP acabou falindo… Cada um foi prum colégio diferente, alguns pro mesmo colégio. Eu voltei pra Passos e a saudade desse tempo bom que não volta mais foi amenizada pelo grupo do WhatsApp que Carlos Henrique e Vivien criaram.

Parece coisa de novela: um virou músico, o outro empresário, artista, âncora de TV, terapeuta holística, psicóloga, atriz, empresário, enfi m… estamos vivos, cheios de sonhos e doídos pra nos reencontrarmos!


SOBRE A COLUNISTA: Edel Holz é a mais premiada e consagrada atriz, roteirista, diretora e produtora teatral brasileira nos Estados Unidos. Inquieta e de mente profícua, Edel tem sempre um projeto cultural engatilhado para oferecer para a comunidade brasileira. Depois de anos de ausência, Edel volta a abrilhantar as páginas de um jornal. Damos as boas vinda à poderosa Edel

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