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Estudo classifica o aumento da incidência de cancer na população jovem como “epidemia”

JSNEWS – A norte-americana Vanessa Chapoy tinha acabado de completar 24 anos quando sentiu um caroço no seio. Era “enorme”, lembra ela, “do tamanho de uma noz ou de uma grande bola de gude”. Ela foi ao primeiro de uma série de médicos para examiná-la. Duas semanas e meia depois, ela foi diagnosticada com câncer de mama no estágio dois.
“Todo o meu mundo virou de cabeça para baixo”, diz Chapoy.

Ela entrou em uma série de tratamentos: uma mastectomia para retirar o tumor e uma parte do tecido mamário ao redor, tratamentos de fertilidade para que ela pudesse congelar seus óvulos, cinco meses de quimioterapia e depois uma mastectomia dupla para remover os dois seios.

Três anos depois, ela ainda está passando por terapia hormonal – uma experiência que ela compara à “menopausa precoce” – e ocasionalmente sofrendo de “quimioterapia cerebral”, que pode ser comparado a um “nevoeiro cerebral” resultante da quimioterapia que, segundo ela, torna mais difícil para ela concluir tarefas ou lembrar de certas coisas.

“Não entendo como isso pôde acontecer”, ela se lembra de ter dito a uma enfermeira no início de tudo. “Eu sou tão jovem.”
Nos Estados Unidos quase 60% dos pacientes que são diagnosticados dessa doença têm 65 anos ou mais. Porem, histórias como a de Chapoy estão se tornando mais comuns. Nas últimas décadas as taxas de câncer aumentaram entre pessoas com menos de 50 anos, o limite típico para quando o câncer é considerado “de início precoce”.

Essa “epidemia de câncer de início precoce”, como um estudo recente publicado na Nature Reviews Clinical Oncology descreveu, compreende um aumento na incidência de diversos tipos cânceres em pessoas cada vez mais jovens a partir da década de 1990 em todos os países ao redor do mundo.

De acordo com dados do National Cancer Institute (NCI), a taxa de casos de início precoce aumentou quase 18% entre 2000 e 2019, mesmo quando o câncer diminuiu ligeiramente na população adulta e idosos nos EUA. Entre os americanos entre 15 e 39 anos, uma faixa etária que os pesquisadores do câncer chamam de adolescentes e adultos jovens (AYAs), o aumento foi ainda mais pronunciado, chegando a 20%.

Esse aumento abrangeu gêneros, raças e órgãos. Ele invadiu o sangue e a medula óssea dos jovens, lançou ataques em seus tratos gastrointestinais e dilacerou órgãos reprodutivos. A incidência de câncer de mama em americanas de 15 a 39 anos aumentou mais de 17% no período de 19 anos. As taxas de mieloma aumentaram em mais de 30%. Câncer colorretal em quase 45%.

Por que? Os pesquisadores do câncer não têm certeza.

As taxas crescentes são “provavelmente parcialmente atribuíveis ao aumento da detecção precoce” em certos tipos de câncer, especialmente câncer de tireoide e câncer de próstata, observaram os autores do estudo da Nature.

Archie Bleyer, professor de pesquisa clínica no Knight Cancer Institute da Oregon Health & Science University, diz que o aumento nos casos de câncer de tireoide, bem como câncer de rim, é pelo menos em parte resultado de “excesso de diagnóstico” devido ao aumento de exames, tanto para o câncer quanto para outros problemas de saúde. Os exames detectaram tumores e massas nesses órgãos que “parecem câncer, então eles têm que chamar de carcinoma”, explica ele. Mas os pacientes “nunca teriam tido um problema se nunca fossem diagnosticados, porque normalmente não se espalhariam afetando outros órgãos ou progridem no órgão infectado”. Portanto, “de certa forma, é um aumento falso”, diz Bleyer.

No entanto, o aumento nas taxas vai além do que pode ser explicado pelo aumento desses casos considerados de “falso aumento”. Os pesquisadores e especialistas supõem que uma série de mudanças ambientais e de estilo de vida desde meados do século 20 também levaram a um aumento real na incidência da doença na população jovem que tem aumentando a exposição a fatores de risco no início da vida.

A principal suspeita apontada pelos pesquisadores é a obesidade, que tem aumentado continuamente desde a década de 1960 e se tornado mais comum na infância e adolescência . Muitos dos cânceres presentes entre jovens estão ligados à obesidade, incluindo câncer de mama e câncer uterino, bem como câncer colorretal e vários outros que afetam o trato gastrointestinal.

Os aumentos nos cânceres relacionados à obesidade têm sido mais “dramáticos” do que entre outros tipos, sugerindo que a obesidade é um “grande contribuinte” para o aumento dos casos precoce, diz Tomotaka Ugai, instrutor da Harvard Medical School e Brigham and Women’s Hospital e principal autor do estudo da Nature.

Além da própria obesidade, os pesquisadores acreditam que vários fatores relacionados podem estar envolvidos: dietas ocidentalizadas, bebidas açucaradas, carne vermelha e processada, estilos de vida sedentários, declínio na atividade física, condições metabólicas como diabetes tipo 2. E a lista de fatores nocivos continua.

Bleyer diz que o aumento do uso de diagnóstico por imagem, como tomografia computadorizada e raios X, que expõem os pacientes a baixos níveis de radiação cancerígena pode se um fator de risco, especialmente para cânceres que afetam o sangue e a medula óssea. Quando se trata do aumento do câncer testicular, ele diz que o aumento do uso de cannabis é provavelmente o principal culpado.

O câncer pode recorrer ou progredir

Chun Chao, epidemiologista do câncer do Departamento de Pesquisa e Avaliação da Southern California, enfatiza que “o desafio para os sobreviventes do câncer não para quando eles concluem o tratamento”.
“Os jovens sobreviventes ao tratamento  também enfrentam uma ameaça maior de desenvolver um segundo câncer ou uma série de outras condições médicas”
, diz Chao, incluindo “doenças cardiovasculares, distúrbios metabólicos, condições endócrinas, doenças pulmonares, doenças hepáticas, insuficiência renal e condições musculoesqueléticas”. Além dessas doenças físicas, ela observa que os sobreviventes têm um risco aumentado de depressão ou ansiedade severa.

E o momento apresenta um conjunto único de desafios e interrupções para pacientes adolescentes e adultos jovens que vão além de sua saúde.

“Eles estão em um estágio de transição na vida”, diz Chao. “Se você pensar bem, esta é a idade em que as pessoas estão tentando estabelecer sua independência. Algumas pessoas estão terminando seus estudos,  tentando conseguir seu primeiro emprego ou apenas começam a estabelecer sua carreira. Suas vidas pessoais estão apenas, pensam em estabelecer novas famílias e ter filhos. Portanto, nesta idade específica, ter um diagnóstico de câncer pode ser uma grande interrupção para esses objetivos”.

Chao observa que uma “alta proporção” de sobreviventes adultos jovens relata dificuldades financeiras relacionadas ao câncer, incluindo “ter que pedir dinheiro emprestado, contrair dívidas ou até mesmo declarar falência”.

Essa matéria foi publicada originalmente em inglês no site The Hill. Para acessa-la clique aqui.

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