Editorial

Na beira do descalabro, um país no mar de leite condensado

Por – Jehozadak Pereira.

E o PT? E o Lula? Quantas vezes ouvimos estas perguntas nos últimos anos? Elas são invariavelmente feitas por adeptos e eleitores do presidente Jair Bolsonaro, cada vez que se aponta alguma incongruência do mandatário da nação.

O que não falta em Bolsonaro, é o apetite voraz para a crise. Grande ou pequena não importa, para ele pode ser qualquer uma, desde que ele consiga manter a sua base ligada na tomada, sem se importar com o que acha a parte da população que não votou nele, mas há de se ressaltar que Bolsonaro é o presidente de todos os brasileiros, gostem dele ou não.

Bolsonaro foi desdenhoso, desidioso e inconsequente ao diminuir o tempo todo a real periculosidade da Covid-19.
Para Bolsonaro e sua gente, a ciência e a razão não valem nada, ou melhor, valem menos do que um comprimido de cloroquina e outras bobagens receitas por ele à exaustão. A consequência da desfaçatez de Bolsonaro pode ser medida pelo número de óbitos, que já superaram os 200 mil e tudo indica que outras milhares de mortes ainda acontecerão para desespero da população. Uma das maiores crises nesta situação toda é sem dúvida alguma a das vacinas. Bolsonaro, engalfi nhou-se numa disputa insana e inconsequente com João Doria, governador do Estado de São Paulo, a quem considera um inimigo mortal.

Digladiando com Doria, Bolsonaro saiu do prumo o tempo todo, e em vez de liderar o processo que coordenaria nacionalmente todos os esforços para combater a doença mortal que assola o mundo. Pode-se não gostar de João Doria, e muita gente com razão não gosta, mas não fosse pelo enfrentamento dele com o presidente o Brasil não teria uma vacina para chamar de sua, ainda que criada por chineses.

Com um pau mandado sentado na cadeira de Ministro da Saúde, Bolsonaro não tem o menor pudor em impor a sua vontade para Eduardo Pazuello, um general da ativa que se gaba de ser um especialista em logística, mas que não consegue andar com as suas próprias pernas, mesmo porque os seus antecessores foram sumariamente demitidos porque ousaram enfrentar a vontade presidencial.

O episódio da aprovação emergencial das vacinas pela Anvisa foi uma dos episódios que marcaram negativamente a história da entidade. Visivelmente aparelhada por Bolsonaro, a Anvisa difi cultou tanto quanto pode o processo, mas acabou por aprovar tardiamente as vacinas.

O Brasil visivelmente está atrasado com a vacinação e a cada dia, novas pessoas contaminadas dão entrada nos hospitais e muitos vão direto para a UTI e via de regra algumas acabam morrendo. A crise da falta de oxigênio no Amazonas é o retrato perfeito do descalabro que tomou conta do Brasil, quando se achou que já havíamos visto tudo.
É inadmissível em pleno século 21, que pessoas morram sufocadas por falta de planejamento e investimento. Bolsonaristas evidentemente responsabilizaram o Supremo Tribunal Federal (STF), dizendo falsamente que o presidente foi impedido de agir.

Pura conversa fiada. Obscenamente, o Brasil caminha para trás ao passo e descompasso de Bolsonaro caminhando cada vez mais em direção ao obscurantismo e atraso em todos os aspectos, e a cada dia fi ca mais evidente que ele quer a qualquer custo reeleger-se presidente. Para que? Unido ao Centrão, que é a vanguarda do atraso em todos os sentidos, Bolsonaro vê nisto a sua tábua de salvação para se manter no poder e dar as cartas do modo como quer. O Centrão cobra um preço alto por seus serviços de lesa-pátria, já que esteve ligado no passado a tudo de pior que já aconteceu no submundo da política. Com Bolsonaro não é diferente, com a certeza de que na primeira oportunidade, vai deixar o presidente na mão. É uma questão de tempo.

Nesta semana, foram revelados os gastos milionários com alguns itens, entre eles a compra de leite condensado – R$ 15,6 milhões; em chicletes – R$ 2,2 milhões; bombons – R$ 8,9 milhões e refrigerantes – R$ 31,5 milhões. Evidentemente, a notícia se alastrou e na quarta-feira, o presidente Jair Bolsonaro, saiu do prumo mais uma vez e ofendeu a imprensa com palavrões e aleivosias. Cercado de áulicos e semelhantes que aplaudem qualquer bobagem que Bolsonaro diz, ele se sente cada vez mais fortalecido e esta não será a última bobagem dita pelo mandatário.

O certo é que entre a epidemia que contamina e mata cada vez mais brasileiros e o leite condensado que não foi derramado, o país navega nos maus humores presidenciais. Resta saber até quando haverá paciência com Bolsonaro e seus desatinos…

Deixe um comentário

WordPress Ads