Por: Edel Holz – Pouco antes de vir para a América, comprei na banca de jornal da Praça da Matriz de Passos, um livro de inglês que vinha com fita cassete. Escutava as lições andando de bicicleta, caminhando na rua ou deitada na minha cama.
Me lembro de duas frases que nunca mais esqueci:”My name is Mary Ellen” and “The Book is on the table”. No meu âmago, sempre esperei que alguém me perguntasse um dia a frase crucial:-“Where is the book?” Para que eu pudesse responder sorridente:-“The book is on the table”.
Mas para meu desencanto, entrou ano passou ano e ninguém nunca me fez essa pergunta em inglês.
Bom…Vim pros Estados Unidos em junho de 2001. Não me conformava com os brasileiros que aqui moravam há mais de 5 anos e não conseguiam formular uma frase sequer em inglês.
Pois paguei a língua bonito! Convivi apenas com a brazucada cuidando de neném americano, mas que só sabia falar ”dada gugu baba” eu sempre precisei de close caption para assistir aos filmes na TV porque pra mim os atores “speakavam” em grego.
Hoje em dia, após 22 anos de USA ,falo inglês na marra e escrevo sem erros macarrônicos. Fico orgulhosa de mim mesma. Sou perfeccionista na escrita em português e analfabeta nesse idioma de Shakespeare.
Mesmo convivendo com essa língua diariamente esse trem não entra na minha cabeça. Tô longe de ser fluente quando ouço o americano falar.
Fernando me diz que inglês é uma língua fácil. Eu digo pra mim mesma:-Fácil pra ele, porque pra mim não é nenhum melzinho na chupeta. Nunca foi, na verdade.
Precisei esperar minha filha nascer e crescer pra um dia me perguntar onde estava seu livro pra que eu pudesse usar a sentença em inglês mais famosa no Brasil e que aqui não serve pra nada:”The book is on the table”. Obrigada Sophia…Você fez daquele momento,um momento inesquecível pra mim!
SOBRE A COLUNISTA – Edel Holz é a mais premiada e consagrada atriz, roteirista, diretora e produtora teatral brasileira nos Estados Unidos. Inquieta e de mente profícua, Edel tem sempre um projeto cultural engatilhado para oferecer para a comunidade brasileira. Depois de anos de ausência, Edel volta a abrilhantar as páginas de um jornal. Damos as boas vinda à poderosa e efervescente Edel.
