Estados de Minas – A ex-juíza Ludmila Lins Grilo, aposentada compulsoriamente pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), disse, nessa quarta-feira (3/1), que está “asilada” nos Estados Unidos há dois anos após sofrer perseguição política. A ex-magistrada atribui a perseguição ao Supremo Tribunal Federal (STF), em especial ao ministro Alexandre de Moraes, além do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o TJMG.
Em suas redes sociais, Ludmila contou que vive nos Estados Unidos desde 2022. Ela alega que “sofreu calada todo tipo de difamação” em relação à sua conduta profissional. Em fevereiro do ano passado, o CNJ afastou a juíza, que atuava na Vara Criminal e da Infância de Unaí (MG), por descumprimento de deveres básicos de seu cargo e ausência no local de trabalho. Ludmila ficou “conhecida” nas redes sociais entre 2020 e 2021 por usar o espaço para criticar ministros do STF e incentivar aglomeração durante a pandemia da COVID-19.
À época, o ministro Luis Felipe Salomão, corregedor nacional de Justiça, afirmou que uma inspeção realizada na vara em que Ludmilla trabalhava apontou falhas como processos parados há mais um ano; réus presos sem sentença há cinco meses; réus soltos sem audiência por longos períodos; ausência da juíza em horário de expediente durante todos os dias da semana; processos extraviados, entre outras.
“Esse foi meu segundo réveillon nos Estados Unidos da América, a terra da liberdade onde eu escolhi viver, e que caridosamente me acolheu e me protegeu da ditadura que, miseravelmente, se instalou no meu país. Sou, oficialmente, uma juíza brasileira em asilo político nos Estados Unidos”, escreveu em suas redes sociais. “Eu era uma juíza em atividade quando aportei em terras americanas. Em silêncio, continuei exercendo meu trabalho por videoconferência, cumprindo toda a agenda diária da vara criminal. Sofri calada todo tipo de difamação quanto à minha conduta profissional, pois ainda não podia revelar que eu não morava mais no Brasil”, completou.
Nos Estados Unidos, a ex-juíza diz que irá trabalhar por todos aqueles que são “perseguidos”. “Cada conta de rede social que for bloqueada, cada ataque do STF, cada lawfare, cada ameaça, ainda que virtual, serão utilizados em meus processos nos EUA, e também serão entregues aos profissionais da mídia e da justiça estrangeiros que acompanham meu caso.”
“Ditadura judicial”
Em um vídeo, publicado posteriormente, Ludmila diz que deixou o país em razão de uma “ditadura judicial que havia se enraizado” no Brasil. “Meus esforços para expor a investigação inconstitucional iniciada pelo Supremo Tribunal Federal para atingir os críticos do próprio Supremo Tribunal Federal, muito antes de ocorrer a prisão em massa, levaram à censura de todas as minhas plataformas de mídia e resultaram na perda do meu cargo judicial”.
Em sua publicação, Ludmila ainda diz que irá apresentar uma denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos contra os membros do STF por crimes contra a humanidade. “Também serão denunciados no polo passivo o Min. Luis Felipe Salomão, do Conselho Nacional de Justiça, e os desembargadores que compõem o Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais”, afirmou.
Afastamento, pandemia e críticas ao STF
Ludmila foi aposentada compulsoriamente pelo TJMG em maio do ano passado. Ela já estava afastada desde fevereiro por determinação do CNJ, que também havia aberto dois processos administrativos disciplinares (PADs), um por publicações político-partidárias com ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e outro por má gestão.
Em 2021, Ludmila Grilo ficou famosa nas redes sociais por ensinar “táticas” para as pessoas não usarem máscara em espaços públicos, além de ter feito publicações que incentivaram aglomerações durante a pandemia de COVID-19. “Andando no shopping tomando sorvete. Com sorvete pode andar sem a máscara, acabar de tomar o sorvete você bota a máscara. O vírus não gosta de sorvete”, disse em um vídeo.
Na época, o CNJ recebeu representações pedindo a abertura de PADs contra a magistrada. Em um deles, o advogado José Belga Assis Trad dizia que Ludmila cometeu infração ético-disciplinar ao se manifestar contra as recomendações das autoridades sanitárias. As publicações em seu Twitter fizeram a conta ser suspensa pelo ministro do STF Alexandre de Moraes.
Em publicações no Twitter, Ludmila afirmava que Moraes e o ministro Luís Roberto Barroso seriam “perseguidores-gerais da república”, além de ter dito que o STF era mera “burocracia”. As falas renderam críticas da presidente do CNJ e do Supremo, ministra Rosa Weber.