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O que as eleições para o Congresso nos EUA apontam para o futuro político no Brasil?

FOLHAPRESS – Desde 2020, quando foi derrotado para o democrata Joe Biden, o ex-presidente dos EUA Donald Trump se encastelou e apostou as fichas em uma mentira para voltar com força em 2024.

Essa mentira era baseada na narrativa de que ele só não foi reeleito presidente porque as eleições foram roubadas ou raquedas por Russos. Te lembra alguma coisa?

A estratégia era clara: manter em fogo alto a revolta dos eleitores que caíram na conversa e prometiam seguir mobilizados pelos próximos quatro anos. Pelo cálculo, não haveria nada mais mobilizador do que unir as pessoas em torno de um sentimento de injustiça, mesmo que fixado nas bases frágeis do delírio.

A efetividade dessa estratégia foi testada nas eleições de meio de mandato (midterm), que renovam boa parte das cadeiras no Congresso norte-americano a cada dois anos.

A disputa é, tradicionalmente, um teste de forças para o presidente eleito dois anos antes. E é quase sempre desfavorável ao mandatário em exercício.

O risco é tão alto que, a depender da surra, pode transformá-lo em “pato manco”, termo usado para designar o presidente que caminha para o fim do mandato com os passos avariados e o poder limitado pela oposição majoritária.

Biden não é exatamente um líder carismático. Pelo contrário – Ao longo do mandato, deu sinais de cansaço e dispersão, criando as condições adequadas para o que boa parte dos analistas chamava de onda “vermelha” republicana prestes a provocar estragos consideráveis nas bases de apoio do democrata e também em suas chances de manter o poder nas eleições presidenciais de 2024.

Mas essa onda não veio – Para surpresa de muitos, os Democratas mantiveram o controle do Senado, o que é fundamental para a aprovação de projetos-chave do atual presidente, que saiu fortalecido do pleito.

Só que o resultado, neste ano, diz mais sobre os derrotados do que sobre os vencedores.

E isso é fundamental para antever a sobrevida de quem abraçou a mesmíssima cartilha para sobreviver politicamente no Brasil.

Sim, estamos falando de Jair Bolsonaro, que nos minutos após a derrota mostrou que seguirá os mesmos passos do ídolo republicano, que saiu de cena e submergiu enquanto alimentava a teoria de que as eleições em seu país foram fraudadas. (Lembra? O ódio e o sentimento de injustiça unem os eleitores e os mobilizam, etc etc etc).

Os candidatos republicanos que foram a campo iniciaram a campanha com a pecha de negacionistas — o que, para eles, era um ativo, e não o contrário. Isso porque eles seguiram à risca o que seu mestre mandou a respeito da suposta (e jamais provada) fraude nas urnas.

Georgia, Arizona, Pensilvânia e Nevada, onde o Partido Republicano lançou quatro trumpistas-raiz ao Senado, eram os estados que poderiam dar à oposição a maioria no Senado.

Com exceção da Geórgia, onde haverá segundo turno, nas três outras localidades os republicanos saíram derrotados.

Em Nevada, por exemplo, o candidato republicano era o ex-procurador geral do estado Adam Laxalt, que passou a campanha repetindo a cantilena a respeito da fraude nas urnas. Esse discurso lhe custou caro.

“Os americanos sabidamente rejeitaram a direção antidemocrática, autoritária e perversa que republicanos queriam dar ao país”, escreveu no Twitter o líder democrata Chuck Schumer.

Os candidatos que não aceitaram a eleição de Biden em 2020 se deram mal também nas eleições para secretários de Estado, espécie de xerifes das próximas eleições presidenciais.

“As pessoas estão cansadas do caos. Querem estabilidade e normalidade. Preferem alguém que vai ser adulto e tomar decisões justas, transparentes e que visem o interesse de todos os eleitores de nosso estado”, disse o secretário eleito em Nevada Cisco Aguilar, que derrotou Jim Marchant, candidato responsável por organizar uma lista de postulantes de direita sob a mensagem deAmérica em primeiro lugar”.

Marchant foi o primeiro a puxar a fila dos rejeitados.

No Brasil, como se sabe, as eleições para o Congresso coincidem com a disputa presidencial. (Ou seja, não temos eleições de meio de mandato).

Apesar da derrota do atual presidente, o bolsonarismo mostrou força com as vitórias de líderes como Damares Alves (DF), Marcos Pontes (SP), Hamilton Mourão e entre outros, para o Senado.

Fica a dúvida se, mesmo com base forte, Bolsonaro conseguirá manter o protagonismo durante os quatro anos que promete ficar afastado para liderar a oposição.

Trump apostou na força do negacionismo eleitoral para manter as chances de voltar triunfante em 2024. As eleições de meio de mandato mostraram que essa chama está no modo fogo baixo.

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