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‘Cold case’ reaberto: mulher misteriosa assassinada há 44 anos nos EUA pode ser brasileira do RJ

Agência Globo Era noite do dia 5 de outubro de 1980 quando dois caçadores encontraram, numa floresta da cidade de Wiggins, no Mississipi (EUA), o corpo de uma mulher em estágio avançado de decomposição. Em suas mãos, um panfleto de anúncios do periódico “Las Vegas Mirror”, datado de março daquele ano, indicava que aquele cadáver poderia estar ali há meses.
Ninguém nunca reclamou o corpo ou denunciou o desaparecimento. Sem nenhuma pista sobre os assassinos ou acerca da identidade daquela vítima, o caso da Senhorita Wiggins — como foi apelidado o cadáver anônimo — acabou arquivado pelo Departamento de Polícia do Condado de Stone à época e passou décadas na gaveta dos chamados cold cases. Pelo menos até agora.

Mais de 40 anos depois, em 2021, a polícia do condado de Stone decidiu enviar a um laboratório americano especializado em análises genéticas forenses, o Othram Inc., baseado no Texas, amostras do corpo da Senhorita Wiggins, na esperança de que análises avançadas de DNA conseguissem ajudar a determinar a identidade da mulher, desconhecida por todo esse tempo. Após mais de dois anos de trabalho, os cientistas agora concluíram que, muito provavelmente, trata-se do corpo de uma mulher brasileira, descendente de uma família de Campos dos Goytacazes (RJ) e com ancestralidade síria ou libanesa. A busca agora é para, enfim, identificá-la.

O laboratório explica que os cientistas conseguiram remontar um perfil de DNA da Senhorita Wiggins usando sequenciamento de genoma de grau forense. Em seguida, os profissionais usaram este perfil para conduzir pesquisas genealógicas genéticas, visando fornecer pistas investigativas às autoridades. Foram estes estudos que a ligaram a uma família tradicional de Campos, dona de fazendas de cana-de-açúcar e alambiques no século XIX.

“Quando um perfil de DNA é construído, ele é carregado em dois bancos de dados de genealogia genética autorizados para uso policial nos EUA. Depois, é comparado com parentes genéticos separados em grupos, o que significa que cada grupo compartilha correspondências de DNA entre si”, explica Carla Davis, americana chefe de Genética Genealogista do laboratório Othram. “A pesquisa genealógica é conduzida usando informações públicas e registros históricos, como registros de censo, de nascimento e óbito, artigos de jornais, registros de inventário etc., para estender os ramos da correspondência de DNA até que um ancestral comum entre o grupo de correspondências seja identificado. Muitas das vezes, as correspondências genéticas são entre parentes distantes, como é o caso da Senhorita Wiggins”.

De acordo com a cientista, a análise de DNA sugere “fortemente” que Miss Wiggins descende de Miguel Roberto da Motta (fazendeiro nascido em 1814), possivelmente através de sua filha Anália Ribeiro (nascida em 1870).

“Esperamos que os descendentes dessas linhagens conheçam uma mulher desaparecida nessa época que corresponda à descrição. Se alguém dessas linhagens e com origens semelhantes tiver feito um teste de DNA, pedimos que considere enviar os resultados para o GEDmatch, um serviço gratuito, para comparação com a senhorita Wiggins”, afirma Davies. “Os investigadores estão esperançosos de que, com a cobertura da mídia no Brasil, a história seja amplamente compartilhada, despertando interesse, e que um membro da família ou amigo se lembre dela”.

De acordo com as informações contidas no inquérito, Senhorita Wiggins tinha entre trinta e quarenta e poucos anos quando foi morta. Media cerca de 1,55m e possuía cabelos castanhos e/ou ruivos, na altura dos ombros. Ela fez tratamento odontológico para incluir vários canais radiculares e pontes, o que indica que ela tinha condições financeiras. Análises apontam ainda que ela pode ter sofrido ferimentos anteriores à morte, como clavícula e nariz quebrados.

De acordo com o Sistema Nacional de Pessoas Desaparecidas e Não Identificadas dos EUA (NamUs), onde o cadáver é identificado como UP11583, seus músculos eram bem desenvolvidos, especialmente nas extremidades superiores. O físico era provavelmente musculoso e compacto, o que indica que ela era fisicamente ativa por meio de ocupação ou atletismo. Os restos mortais estavam na floresta há cerca de seis meses.

“O trabalho no laboratório está concluído. Agora, estamos divulgando publicamente, ao lado do capitão Austin Barnett (do Departamento do Xerife do Condado de Stone), na expectativa de que alguém se lembre da Srta. Wiggins e encoraje os descendentes de Campos dos Goytacazes a fazerem teste de DNA para ser carregado no GEDmatch para comparação. Estamos confiantes de que, com a ajuda da população, conseguiremos identificá-la”, acrescentou Davies.

Os policiais e o laboratório estudam ainda tentar, através de um pedido colaboração, ajuda da polícia brasileira em busca de evidências que levem à identidade da mulher misteriosa.

Pesquisas
O laboratório Othram trabalha com profissionais forenses, médicos legistas e policiais, segundo a empresa, ao redor de todo o planeta. “Apoiamos as agências de polícia desde a cena do crime até o tribunal”, descreve a chefe de pesquisas. O projeto surge com o foco de resgatar cold cases e ajudar a identificar vítimas e solucionar homicídios que acabaram arquivados — como é o caso da suposta brasileira —, além de casos, também, de violência sexual.

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