Por: Alfredo Melo – No mês de janeiro passado, se fosse vivo, Adair Bon m (Bigode), teria completado 92 anos de idade. Um grande contador de causos e “linguiceiro” da melhor qualidade e que infelizmente, nos deixou em 2011. Adair Bon m, a quem eu chamava carinhosamente de “Bigode”, era um arbitro disciplinador da Liga de Caratinga. Quando apitava na Liga de Caratinga, na primeira partida da final entre o América (time do povão) e o Caratinguense (time da elite), foi agredido covardemente.
O América, tinha inscrito um menino, centroavante do sub-23 do Tupi de Juiz de Fora, mas, que até então não tinha jogado nenhuma partida pelo América, era totalmente, desconhecido da torcida do América. Naquela tarde Chula, o menino do América, estava acabando com o zagueiro Nei, do Caratinguense, que aos 35 anos de idade estava se despedindo do futebol. Nei já havia feito duas faltas violentas em Chula e já estava com cartão amarelo, com menos de 15 minutos de jogo.
Quase ao término do primeiro tempo, Chula já havia marcado um gol e estava dando um baile em Nei. Em uma jogada de contra-ataque, Chula, deu dois dribles em Nei, que apelou e entrou pra quebrar o atacante do América e levou o segundo cartão amarelo e em seguida levou cartão vermelho.
Nei abaixou a cabeça e foi saindo de campo, ao chegar na linha lateral, parou, ficou olhando para dentro de campo, botou as mãos para trás e caminhou em direção ao arbitro Adair Bon m, chegando perto de surpresa e covardemente, mandou a mão, no pé do ouvido do Bigode, que o telefone ficou uns 20 minutos, dando sinal de ocupado.
Após a agressão, fugiu covardemente, em direção ao vestiário. Terminada a partida, Adair relatou na sumula a agressão e entregou na Comissão de Disciplina da Liga.
A direção do Caratinguense, designou o Dr. Mansur Abud, advogado famoso em Caratinga, para defender Nei.
No julgamento, após a leitura da sumula, Dr. Mansur começou sua argumentação, afirmando que Nei estava nervoso e abalado emocionalmente, devido a sua despedida do futebol, e pela falta de respeito daquele “negrinho” atrevido, que não era de Caratinga e estava faltando com respeito a um ídolo e com a sociedade de Caratinga e que Nei, pediria desculpas ao arbitro, publicamente e que o atleta fosse absolvido.
Nesse momento Aldair Bon m, o Bigode, pediu a palavra e disse que não aceitaria o pedido de desculpas, pois, mesmo estando nervoso, Nei, deveria saber que meu ouvido não é calmante.
Saudades do grande Bigode.
Bem, até que enfim o Alfredo Melo assume a verdade que nunca quis calar: ele é o Gatinho Cruel, que agora sai de cena para dar lugar ao seu criador. Enorme criatura no sentido literal, na bondade, no caráter e no conhecimento profundo do futebol e das coisas boas da vida, inclusive pratos deliciosos. Ah, tem também a paixão pelo Botafogo cada dia maio.
