Edel Holz
Eu tinha meus 6 anos de idade e vivia inventando moda: colocava duas laranjas pra ter peito grande, um lenço na cabeça, rouge na cara, o penoir azul de nylon da mamãe e um cabo de vassoura que usava como bengala. Eu subia a Barão de Passos vestida de velha e seguia o circo, que cabia inteiro numa caminhonete.
Tinha a mulher conga, o homem bala, os palhaços, as bailarinas e os trapezistas. O megafone convidava os pacenses pra irem aos shows. Eu, do passeio, acenava pra eles lá em cima do caminhão. E eles me mandavam beijos, sorrindo pra mim. O caminhão descia a Antônio Carlos e eu voltava pra casa, sem medo da bronca que levaria por ter saído sem avisar.
Mas quando o perna de pau vestido de palhaço, se pôs em minha frente, frisei de medo e saí correndo sem olhar pra trás adquirindo um pavor de perna de paus pra toda a vida.
À noite, de Maria Chiquinha e roupa de “ver Deus”, o meu irmão Gustavo me levou ao circo e eu vidrada e encantada com os macacos, o leão, o globo da morte, os trapezistas, a pipoca e o algodão doce mais gostoso do mundo. Eu chorava pra assistir a todos os espetáculos e ninguém queria me levar de novo. No último dia, meu Irmão me levou e eu fui da minha casa à tenda mágica gritando: “Viva o circo, viva o circo, viva o circo!”.
Edel Holz é a mais premiada e consagrada atriz, roteirista, diretora e produtora teatral brasileira nos Estados Unidos. Inquieta e de mente profícua, Edel tem sempre um projeto cultural engatilhado para oferecer para a comunidade brasileira. Depois de anos de ausência, Edel volta a abrilhantar as páginas de um jornal. Damos as boas vinda à poderosa e de mente efervescente Edel.
